Resumo Este artigo apresenta uma análise do fenômeno contemporâneo comumente chamado de “multiplicação de muros”, ou seja, a militarização das fronteiras. Considera a fiscalização das fronteiras como uma solução política sobre a mobilidade retratada como “indesejável”, proposta por políticos, profissionais de segurança e grupos de cidadãos para seu próprio benefício e interesse político. O “muro” é assim compreendido mediante um espetáculo político destinado a cidadãos cercados. Para analisar o espetáculo do muro, o artigo recorre a uma comparação internacional em dois casos geopolíticos distintos. A comparação se concentra especificamente nas mobilizações em favor de “cercas de fronteira/segurança” em Israel a partir de 2001 e Arizona (EUA) a partir de 2010. Identifica três operações políticas análogas lideradas por esses atores (problematização da mobilidade, securitização em uma resposta militar e divulgação de narrativas em favor da barreira), e assim caracteriza a fabricação da militarização fronteiriça de uma perspectiva de baixo para cima, ao mesmo tempo em que ilustra suas variações nacionais.

Abstract. This article presents an analysis of the contemporary phenomenon commonly referred to as the “multiplication of walls”, namely the militarization of borderlands. It considers border enforcement as a policy solution about mobility portrayed as “undesirable”, propounded by politicians, security professionals and citizens’ groups for their own political benefit and interest. The “wall” is thus apprehended through a political spectacle intended for fenced-in citizens. To dissect the wall spectacle, the article resorts to an international comparison in two different geopolitical cases. The comparison specifically focuses on mobilizations in favor of “border/security fences” in Israel from 2001 and Arizona (USA) from 2010. It identifies three analogous political operations led by these actors (problematization of mobility, securitization into a military response and publicization of pro-fence narratives), and thus characterizes the manufacture of border militarization from a bottom-up perspective, while illustrating their national variations.